Monday, February 02, 2004

O mundo em 2020

marketing_mania

O MUNDO EM 2020?


“Estava só. O passado estava morto, o futuro era inimaginável. Que certeza tinha ele de poder vir a existir ao seu lado um único ser humano vivo?
Tirou do bolso uma moeda de vinte e cinco centavos. Ali também, em letras muito minúsculas porém nítidas, liam-se as mesmas frases; do outro lado, a cabeça do Grande Irmão. Até mesmo da moeda, aqueles olhos o perseguiam. Nas moedas, nos selos, nas capas dos livros, nos distintivos, nos cartazes, nos maços de cigarros – em toda a parte. Sempre os olhos a fitar o indivíduo, a voz a envolvê-lo. A dormir ou acordado, a trabalhar ou a comer, dentro ou fora de casa, na casa de banho ou na cama – não havia fuga.
Nada pertencia ao indivíduo, excepto alguns centímetros cúbicos dentro do crânio.”
George Orwell, “Mil novecentos e oitenta e quatro”.


Felizmente que as profecias de Orwell não se terão até hoje concretizado. As perspectivas futurísticas do passado, então enunciadas, pareciam apontar para o progressivo desaparecimento da individualidade humana, num ambiente perfeitamente constrangido pelo domínio de um qualquer “Big Brother”, Deus ex-machina, tirano, castrador de quaisquer veleidades de liberdade e creatividade pessoal.
O desenvolvimento tecnológico, desejavelmente rápido, parece agora apontar para um cenário em que a tecnologia se continuará a expandir numa perspectiva de resposta às necessidades e ambições do indivíduo, ao serviço da sua cada vez mais crescente individualidade e personalidade.
Tema este particularmente importante, constitui convicção dos marketeers que toda a actividade económica e o ambiente deverão conviver no futuro numa interligação harmoniosa que, em última instância, visará a procura de uma nova realidade desenhada à semelhança do ser humano e do contínuo desenvolvimento das suas capacidades e potencialidades.
A cidade, o ambiente, os transportes e as comunicações, a actividade económica, não deverão ser mais do que respostas organizativas às exigências crescentes, em termos de quantidade e qualidade dos consumidores, produtores, cidadãos seres humanos.
O mundo em 2020, o mundo do futuro, será certamente diferente do actual. Olhando para a frente parecer-nos-á que, afinal de contas, não se estará a falar de uma distância temporal assim tão grande. Se olharmos para tràs, contudo, concluímos que em duas ou três décadas tudo parece ter mudado, a telefonia móvel, a internet, os transportes, etc, etc, etc.
O consumidor-rei, o prosumer, os novos estilos de vida, cyber-spaced?, as eleições na web, as carteiras electrónicas multi-funcionais (rádio, Tv, telefone, web, organizer, ...), as consultas médicas e os tratamentos on-line, o entretenimento, a escola e a formação, as encomendas personalizadas, a comunicação aberta 24h, tudo isto não constituirá já futurismo certamente em 2020, mas o limiar de novos hábitos de vida e de consumo.
Até onde a tecnologia servirá as necessidades e intentos dos cidadãos? Ou até onde determinará e induzirá comportamentos não totalmente desejáveis? Este constituirá um ponto central da dialéctica máquina-Homem que se irá estabelecendo, ao longo do tempo, e que ditará finalmente o vencedor.
Esperemos que a humanidade e a individualidade do ser humano, não sejam vencidos pelos desígnios da atracção e adopção cega de estilos de vida que pouco ou nada tenham a ver com a razão de existência do Homem, enquanto tal.
Sobre tudo se poderá especular. Será de esperar que os próximos anos tragam uma velocidade de mudança ainda maior. Somos espectadores, mas também agentes dessa mudança. Façamos um mundo à nossa imagem e interesse.

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CAIXA

TENDÊNCIAS FUTURAS (*)

Económicas e geo-políticas
- Interconectividade mundial
- Interconexão cultural
- Megametrópoles
- Liberalismo económico
- Grande poder dos governos
- Balcanização dos Estados
- Megaempresas
- Babelização

Tecnológicas
- Obsolescência instantânea
- Interconectividade constante
- Nanotecnologia, nutrição, farmacologia
- Micronização
- Bionicismo
- Data mining
- Extensão do tempo de vida

Sociedade
- Politeísmo
- Novas tribos universais
- Cepticismo
- Paradoxos consumistas
- Superpopulação
- Contacto permanente

Consumidor
- Prematuridade
- Insatisfação permanente
- Alheamento perante as empresas
- Procura da autenticidade
- Sempre on-line
- Compre agora, pague nunca
- Upscale do consumo
- Frugalidade dos ricos
- Obesidade

Negócios
- Morte da demografia na segmentação
- Procura de nichos
- Criação de experiências aos consumidores
- Proliferação de marcas
- Modelos modulares de negócio
- Reintermediação
- Preços dinâmicos
- “Enganar o consumidor”
- Personalização de massa

Emprego/Local de trabalho
- Multiracial
- Multiplicidade de profissões
- Desmotivação para o trabalho
- Avaliação não isenta da performance do trabalho
- CEO Superstars
- Gestão mercenária
- 24/7/365
- Obsolência rápida de conhecimentos
- Necessidade de reaprendizagem constante
- Teletrabalho
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* Extraído de “60 Trends in 60 Minutes”, Sam Hill, John Wiley & Sons, New Jersey, 2002)

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CAIXA

A NOVA ECONOMIA (Demand-side economy) (*)

- Organização por segmentos de clientes
- Focalização no valor futuro da relação com o cliente
- Gestão por sorecards globais (incl. Marketing)
- Focalização nos stakeholders
- Todos fazem marketing
- Construção de marcas através da sua performance
- Focalização na retenção de clientes
- Medição da satisfação dos clientes e na taxa de retenção
- Entrega superior à promessa

(*) in, Marketing Management, Philip Kotler, 11ª edição, Prentice-Hall, New Jersey, 2003)

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Carlos M. de Oliveira
Fevereiro 2004

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