Thursday, April 05, 2007

OS TRÊS “EU”(s)

Num destes dias, em conversa ao almoço com alguns amigos do mundo marketing e das tecnologias, reflectíamos sobre o futuro e, em particular, o impacto, que as ditas “novas tecnologias”, teriam/terão sobre o comportamento das pessoas.
O ponto de partida era o de todos termos filhos - entre crianças, adolescentes e alguns já adultos – alguns de nós darmos aulas na universidade e daí a “velha”, mas sempre nova, questão da relação entre gerações, da “aculturação” dos mais novos e da “reintegração dos menos novos” no mundo estonteante da informação actual.
Comentava que, em termos psicológicos, o nosso comportamento – pelo menos daqueles que usam plenamente os meios de informação digitais disponíveis – poderá ser avaliado na tripla personalidade que poderemos assumir, consoante as situações: o “1º eu”, aquele que é projectado pelo comportamento relacional que temos, no dia a dia, na sociedade, face aos amigos, familiares, colegas e outros; o “2º eu”, projectado por aqueles que, por exemplo, são utilizadores e agentes activos no “Second Life”, e o “3º eu”, aquele que poderia ser detectável pela utilização que fazemos dos motores de busca na Internet.
O “1º eu”, será aquele “real”, mas que na prática é fruto do que queremos parecer aos outros, da imagem que queremos projectar, do que pensamos ser “politicamente correcto”. Logo, essa “realidade” poderá não reflectir o que somos de facto; o “2º eu”, será aquele que, provavelmente, gostaríamos de ser e que por alguma razão não somos ou, em alternativa, um outro “eu” experimental. Para quem não está tão a par deste “Second life”, trata-se de um website onde cada um, ao aderir, poderá “formatar” uma personagem à sua medida, incorporando na mesma as características, pessoais, de personalidade, comportamentais, profissionais, sociais, que julgue mais interessantes, na realidade um “alter ego”. Neste ambiente, em princípio não iremos projectar “o que somos”, mas o que gostaríamos de ser. Finalmente, o “3º eu”, aquele que somos quando procuramos na nossa intimidade e o sigilo possível de uma ligação ao ciberespaço através de qualquer PC, dialogando com uma máquina, sobre os múltiplos assuntos em que estamos interessados, através de palavras-chave, de pesquisa de informação, as quais certamente revelarão aquilo que somos mas não queremos que se saiba. Este último, ou mais precisamente o “googlar” que muitos de nós fazemos, será certamente uma fonte riquíssima de informação sobre nós próprios e tão real quanto possível.
Aparentemente, ao considerar este último leio, teríamos descoberto uma mina de informação que, se explorada, poderia “na realidade” revelar os interesses, as necessidades, as motivações verdadeiras de cada consumidor individual e que constituiria, assim, um must para os researchers e para os marketeers, um complemento aos mais recentes estudos de neuromarketing.
Mas, cuidem-se os marketeers, não há “bela sem senão”.O paradoxo está, em que se viéssemos a descobrir “que estaríamos a ser descobertos”, a própria essência e futuro destes motores de busca estaria em causa. Poderia ser o fim do modelo de negócio ou, se o não fosse, provavelmente passaríamos a ter um comportamento naquele meio, diferente do que temos agora, fingindo alguma coisa, logo não projectando o nosso verdadeiro “eu”.
Complexo o comportamento humano... E a tecnologia, poderá ter alguns perigos. Desejavelmente, que possa restar ainda alguma intimidade e a preservação da ética na sociedade e nos negócios.
2 Abril 2007

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