Friday, March 28, 2008

Do optimismo do governo à realidade das coisas

O governo, através do seu primeiro ministro, anuncia que a crise orçamental está ultrapassada. O défice está abaixo dos 3% do PIB, dentro dos parâmetros desejáveis em termos das decisões comunitárias, logo a economia “está a recuperar” e “em boa forma”. Não negamos que o atingir de alguns desses objectivos é positivo, talvez mesmo básico, mas não será certamente isso que dará a volta, nem vai resolver a crise. É urgente a diminuição das despesas públicas, reduzir o papel do Estado e dos seus agentes àquilo que deverá ser a sua única função, criar as condições para que a economia e a sociedade livremente se desenvolvam. E, convenhamos, que se há tempo para que se pense em legislar sobre piercings, tatuagens, declarações de despesas em casamentos!!!, etc, domínios estritos da vida individual e privada, então é porque o aparelho do Estado está grande demais. É necessário despedi-los.
Percebemos que o discurso do governo tenha, por definição, um carácter optimista, “como lhe competirá” em termos da sua “job description”, de políticos, mas só numa perspectiva pessoal de compreensão infinita do tema. Mas, é também por isso, que as pessoas estão cada vez longe deles; que o nível de abstenção eleitoral cresce; que muitos bons empresários e técnicos qualificados, querem tudo menos estar no governo.
A realidade económica é bem outra. O optimismo não paira nos agentes económicos, desde os investidores, aos empresários até aos consumidores. E, se é assim, é porque os políticos não conseguem ganhar a confiança daqueles cuja acção irá determinar a alteração do funcionamento da economia, criando mais riqueza e valor. E estes agentes económicos continuam com um nível de confiança baixo, logo inibidor do retomar a sério da actividade porque, o desemprego e o emprego precário proliferam; o crédito mal parado não pára de subir; as prestações dos créditos aumentam, em consequência, a dívida privada também; todos os dias empresas vão à falência, as que não vão, em particular as PME, queixam-se da diminuição das vendas; o consumo desce; as famílias sentem uma grande instabilidade; os jovens não vêm um futuro promissor à sua frente.
O aparelho fiscal é cada vez mais eficaz o que, em si, será positivo mas não resolve tudo. É necessário cobrar, fiscalizar, mas também perceber e alterar as condições que levam muitos empresários honestos a não poder cumprir com as suas obrigações. É necessário ir ao âmago da questão e, nesta área, os políticos têm alguma dificuldade em compreender e sentir os problemas na pele, porque não são os seus, por estarem afastados dos problemas, porque alguns deles nunca viveram a realidade empresarial.
É assim o panorama económico quotidiano actual dos que “têm de pôr a mão na massa”, longe da visão optimista dos ministérios.
E qual a razão porque abordamos aqui este tema? Primeiro, porque somos cidadãos conscientes, incomodados com a situação; depois, para sairmos em defesa do marketing. É que é imperioso que se faça a distinção entre “marketing” – o que isto não é - e “propaganda”...
CMO
in, Marketeer, Abr.2008

Thursday, March 13, 2008

ESTE ADMIRÁVEL MUNDO NOVO

Por ocasião de uma conferência sobre a inovação em marketing, recentemente promovida no Porto, um dos temas abordados foi neuromarketing.
O tema já não é novo – porque dele já se fala e investiga há uns bons 5-6 anos – ou, então, pela mesma razão será ainda bastante novo e, quem sabe, emergente.
Desde os primórdios do marketing “científico” que uma das suas preocupações naturais – dos investigadores e dos “práticos” – é a de tentar conhecer o consumidor, nas suas atitudes, comportamentos e interesses mas, principalmente, nos determinantes da sua decisão.
Também sabemos que muitos estudos de mercado, qualitativos e quantitativos, são efectuados, daí se inferindo potencial sucesso para o lançamento de um novo produto ou serviço, através da auscultação dos consumidores e, lançado este, acaba por se verificar muitas vezes que este falha, é um insucesso.
Uma das dificuldades é a de tentar interpretar como actos de compra efectiva, aquilo que o potencial consumidor parece preferir, pelo menos quando é questionado, na ocasião do estudo de mercado.
O consumidor tende a expressar muitas vezes aquilo que lhe parece “politicamente correcto”, aquilo que no seu entender será uma “resposta racional”, o que não significa que isso tenha como consequência uma futura compra.
Isto não significa que os tradicionais estudos de mercado estejam condenados, mas que se trata de uma área complexa, sempre em evolução e aberta a novos métodos e técnicas.
Naquela conferência, o Dr.David Lewis, inglês, director do Mind Lab, um dos percursores do neuromarketing, teve a ocasião de apresentar a sua metodologia própria baseada na medição dos impulsos eléctricos no cérebro e do que isso pode representar, ou avaliar, das efectivas preferências dos consumidores, quando confrontados com um produto, com um spot publicitário, com uma marca.
Já a APPM tinha, em 2005, trazido ao seu Congresso Internacional uma neurocientista do Califórnia Institute of Technology, Anette Asp que, utilizando uma tecnologia alternativa a esta, com base na Ressonância Magnética Funcional, desenvolvia nos EUA estudos práticos no mesmo sentido para algumas das mais conceituadas marcas internacionais.
Ambas as tecnologias querem medir aquilo que “no íntimo”, “na verdade”, o consumidor sente e prefere, tentando desta forma despi-lo daquilo que ele “acha” politicamente correcto, isolando respostas ou reacções previamente pensadas ou racionalizadas.
Trata-se este de um admirável mundo novo, em que as ciências e técnicas - neste caso, as técnicas auxiliares da medicina e da neurociência e o marketing - parecem recuar nas suas fronteiras, e com sua espantosa interdisciplinaridade, procuram melhor ajudar o Homem a conhecer-se a si próprio.

Carlos Manuel de Oliveira, Março 2008 (in site Imagens de Marca)