Monday, June 12, 2006

UM DIA DESTES DESISTO…. MAS, FORÇA PORTUGAL


Para que não assuma uma atitude negativa, que repudio, hesito muitas vezes em ter estes "desabafos" mas, ao mesmo tempo, são uma pequeníssima contribuição para a auto-sensibilização, no que se refere ao comportamento dos portugueses. Mas, confesso que é um exercício de auto-exacerbação e de consciencialização permanente dos nossos pontos fracos.
Mas é de mais! Agora até roubam as vacas! Quase que parece piada mas não é. No âmbito da Cow Parade que começou há alguns dias, lá teve lugar o habitual vandalismo, sob capa de desideratos não totalmente confessados.
Uma das vacas desta interessante e cultural iniciativa – a apoiada pela Marketeer e pintada pelo artista Paulo Marcelo – foi roubada da Avenida da República, para mais tarde aparecer danificada no campus da Ajuda.
E não é o primeiro caso. Um responsável de uma agência de comunicação dizia-me que um seu cliente – patrocinador de uma outra vaca – lhes tinha pedido para encontrarem uma solução, tipo acrílico, para proteger aquela que apoiam para evitar o vandalismo. Sabemos que outras já foram vandalizadas.
Afinal trata-se de uma exposição de arte que todos deveriam apreciar e respeitar.
Aliás, Portugal é claramente um pais, daqueles a que temos – alguns – feito o esforço por pertencer, os civilizados, em que não bastam as leis para que se cumpram as regras.
É preciso colocar uns horríveis pilares de cimento ou metálicos para que não se estacione em cima dos passeios; coloca-se uma placa de proibição à saída das garagens mas algumas vezes tem de se chamar a policia se se quer sair de casa e tirar o carro da garagem; fazem-se filas para comprar um bilhete ou qualquer outra coisa e lá vem o “Chico esperto” a querer ou mesmo a passar à frente; existem os corredores de transportes públicos, mas “os espertos” vão sempre por lá, chamando “estúpidos” aos que – felizmente que a maioria – ainda se mantêm na sua fila; o trânsito é uma confusão porque as pessoas procuram em primeiro lugar passar à frente do “outro” se por acso a fila do lado vai mais à frente que a nossa. Chega-se às bifurcações, cruzamentos, etc, e todos se cruzam de uma fila para as outras, porque o importante não é chegar ao local na fila certa, mas passar à frente de quem quer que seja, mesmo que isso implique que quando temos de virar à esquerda estejamos precisamente no lado esquerdo, completamente no sítio oposto.
E isto nada tem a ver com alguns menos favorecidos que se rebelam contra o “establishment”. Este é um comportamento transversal a todas as classes sociais.
E, se formos para o campo do “dizer mal”, então isso é um mundo. Agora é o Mundial. Afinal se temos tantos especialistas que se poderiam candidatar ao lugar de seleccionador nacional – de bancada – porque estamos a gastar dinheiro contratando um estrangeiro, e ainda por cima profissional.
Nós, os desenrascados, os que damos opinião e sabemos de tudo, porque é que não podemos ser treinadores de futebol? Até sabemos mais que os profissionais! Um seleccionador é um gestor e quando decide as suas decisões deverão ser acatadas. Mas, já estamos a dizer mal por causa do Quaresma ou do Baía! Eu acho que não era preciso seleccionador. Há tantos especialistas por aí. Eu não sou! Que desperdício de talentos.
Deveríamos era estar preocupados em nos unir uma vez mais em torno da selecção – já agora, foi aquele estrangeiro que teve a capacidade de mobilização a que assistimos em 2004 e que aparentemente ninguém do nosso burgo tinha tido até então – até ele deve estar espantado e pensar que lá no fundo, no fundo, se calhar não merecíamos o esforço. Que péssima imagem!
Por tudo isto e, certamente, pelo muito mais que não referi, até nem estou – infelizmente – surpreendido com o que aconteceu à vaca!
Enquanto uns andam a tentar construir alguma coisa, outros têm o prazer mórbido de destruir.
Assim não. Já era tempo de aprendermos com nós próprios a não dar “tiros nos pés”.


Nota final – Certo que não devemos julgar “os portugueses” pelo comportamento de “alguns portugueses”, mas sabemos bem que bastam “alguns” para porem em causa todo o comportamento de um grupo ou de um povo.

Carlos Manuel de Oliveira, in Marketeer, Junho 2006