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É DIFÍCIL SER PORTUGUÊS!
De facto, nem tudo vai bem por estas terras lusitanas. Nesta “stressante” contagem descrescente, à medida que nos aproximamos do Euro 2004, vão ressaltando as nossas angústias e receios de podermos perder a oportunidade de nos virmos a (re)afirmar no panorama do futebol europeu e mundial, passados que são os anos de glória do futebol português.
Não pretendo fazer uma análise desta modalidade em Portugal, até porque pouco mais sei e sou que um desportista de bancada. A pertinência do tema, sendo pelo menos essa a perpectiva que gostaria de focar, não é tanto a do desporto em si, mas dos comportamentos que nós, portugueses assumimos, individual e colectivamente, perante este fenómeno, logo e em primeiro lugar, destinatários e consumidores deste produto.
O “produto” Selecção Nacional deveria ter os ingredientes suficientes para despoletar em nós um sentimento de pertença, de que é nossa e como tal susceptível de captar o nosso carinho e apoio.
É fácil bater as palmas aos grandes, aos poderosos, aos que aparentemente poderão ser sempre os vencedores. Mais difícil será apoiar as pessoas, entidades ou grupos que carecem de tal, nos momentos em que as vitórias não saem, em que as coisas não correm tão bem.
A paixão que o futebol acarreta, tràs para a análise, para além desses sentimentos positivos e necessários, também os nossos comportamentos mais negativos e, por vezes, quase que de alheio perante uma realidade colectiva, da qual deveríamos ser sempre os primeiros apoiantes.
Certamente que muito terá de continuar a ser feito para que as velhas glórias se repitam e que o orgulho de ser português seja também corporizado neste domínio. Mas também este deverá ser um momento de auto-reflexão perante as nossas atitudes e comportamentos.
Não quero passar a vida a dizer mal dos portugueses. Até porque também o sou, sendo presunção se me distanciasse dessa qualidade. Mas julgo que estes exercícios de auto-reflexão dever-nos-iam ajudar a ser mais participantes e assumirmos as nossas responsabilidades.
Dizemos mal do futebol. Não quero aqui abordar, o que não vai actualmente bem no nosso futebol, não falando do desporto em si, mas daqueles que o rodeiam e dele se possam aproveitar.
Se ganhamos, não somos suficientemente frios para perceber se isso corresponde a algo mais estruturado e verdadeiramente merecido, ou terá sido fruto da sorte momentânea. Se perdemos, pomos completamente de rastos os profissionais, que tantas vezes tentarão fazer o seu melhor, mas que às vezes as coisas não correm bem. Como dizemos, passam rapidamente de bestiais a bestas.
É talvez uma das nossas piores características, não assumirmos conscientemente as nossas fraquezas, distanciar-mo-nos.
Gostamos de não cumprir. Não respeitamos filas de espera, passamos o traço contínuo, andamos em excesso de velocidade, criticamos o árbitro. Exigimos sempre dos outros aquilo que também não fazemos. Mas para nós isso é tão simples como tal. Os outros são sempre os responsáveis. Se o Ricardo deixa entrar um “frango” a culpa é do seleccionador que deveria ter escolhido o Vitor Baía, ou outro. Se o “frango” for do Vitor Baía é porque o treinador deveria era ter escolhido o Ricardo.
Carecemos de maior disciplina, deveremos ser exigentes mas ter respeito pelo trabalho e comportamento dos outros.
Temos muitas coisas boas. Aliás julgo que deveremos sempre tentar puxar pelos nossos factores positivos. Mas não podemos tapar o sol com a paneira e ignorar a necessidade de pensarmos um pouco também nos aspectos mais negativos dos nossos comportamentos. E, por isso, abordo o assunto nestas breves linhas.
Sejamos positivos e crentes, mas também espectadores construtivos e actores de todas as mudanças necessárias.
Enfim, não querendo passar uma esponja pelo que não estará bem no futebol português, diria que temos direito a uma Selecção melhor. Teremos?
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Carlos Manuel de Oliveira
Nota Editorial Marketeer
Maio 2004
Thursday, May 06, 2004
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